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JOCA E O PRATO DE SOPA
Duque Fórum :: Biblioteca :: * Livros :: Biblioteca virtual :: Contos
Página 1 de 1
JOCA E O PRATO DE SOPA
o Joca faz cara feia à sopa. Diz ele que se engasga.
– Não te engasgas com o bife nem com as batatas fritas...
– diz-lhe o pai. – Porque será?
A verdade é que o Joca não gosta de sopa. Já os pais
estão na fruta e ele ainda a remanchar, ora uma colher ora
outra, muito enfadado, diante da sopa fria.
No outro dia, foi lá jantar o tio Alfredo. Sabedor do
desgosto do Joca pela sopinha, disse que ia preparar uma
sopa especial, uma raridade, que tinha dado que fazer a
mais de mil homens.
Fechou-se na cozinha, onde se demorou que tempos, e
quando terminou o preparo anunciou:
– Todos para a mesa, para provarem a sopa que custou o
trabalho de mais de mil.
– Não te engasgas com o bife nem com as batatas fritas...
– diz-lhe o pai. – Porque será?
A verdade é que o Joca não gosta de sopa. Já os pais
estão na fruta e ele ainda a remanchar, ora uma colher ora
outra, muito enfadado, diante da sopa fria.
No outro dia, foi lá jantar o tio Alfredo. Sabedor do
desgosto do Joca pela sopinha, disse que ia preparar uma
sopa especial, uma raridade, que tinha dado que fazer a
mais de mil homens.
Fechou-se na cozinha, onde se demorou que tempos, e
quando terminou o preparo anunciou:
– Todos para a mesa, para provarem a sopa que custou o
trabalho de mais de mil.
1
© APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
JOCA E O
PRATO DE SOPA
António Torrado
escreveu e
Cristina Malaquias ilustrou
1 de Maio
Dia Mundial do Trabalhador
O
www.hugoteacher.blogspot.com
Veio a sopa para os pratos e nenhuma diferença fazia das
sopas já conhecidas e rejeitadas pelo paladar do Joca.
Ele assim o disse, à primeira colherada:
– Se deu que fazer a mil homens ou só deu que fazer ao
tio Alfredo vale o mesmo.
– Enganas-te – atalhou o tio Alfredo. – Vamos nós fazer
as contas aos homens que trabalharam para a tua sopa.
Pegou num papel e numa caneta e começou a contar:
– Primeiro, os legumes da sopa. Calculas quantas
pessoas foram necessárias para lavrar a terra, mondar as
ervas, regar a horta? Agora acrescenta os ferreiros que
fabricaram os sachos, os mecânicos que armaram o arado,
os operários que construíram o tractor, os latoeiros que
fizeram os regadores...
– Agora a rega é toda mecanizada – lembrou o pai do
Joca.
– Mais me ajudas – disse o tio Alfredo. – Quantos
engenheiros foram necessários para inventar a rega por
aspersão? Quantos operários para apurar os instrumentos
de rega? Quantos homens para fabricar as bombas de água,
que a vão buscar aos rios? E quem fez as mangueiras?
Quem concebeu a mecânica dos óleos, que accionam as
bombas de água?
Tanta gente à volta de um prato de sopa! Cem?
Duzentos? Trezentos homens, cansados de trabalhar? Os
pais do Joca e o tio Alfredo faziam cálculos de cabeça.
– Aos legumes, acrescenta o arroz. As mais das vezes são
mulheres quem cuida dos arrozais – explicou o tio Alfredo.
– E quem trata do ensacamento? Quem acondiciona?
Quem transporta? Quem distribui pelos armazéns? Quem o
vende nas lojas e nos supermercados? Mais umas centenas.
– Alfredo, não te esqueças do sal – lembrou a mãe do
Joca.
– Pois claro que não me esqueço dos salineiros, que
levantam o sal das salinas. Sem a contribuição deles, a sopa
não tinha gosto.
O tio Alfredo continuava inspirado, somando parcelas,
acrescentando gente. Enquanto ele sussurrava números
debruçado sobre o papel, o pai do Joca tomou-lhe o fio à
meada:
– E o construtor do fogão, que cozinhou a sopa? E os
fabricantes do gás, que acendeu o fogão? E os químicos
que produziram o fósforo, com que se fizeram os fósforos,
que acenderam o gás, que chegou aos bicos, trazido pelas
condutas, escondidas no fogão, que cozinhou a sopa? –
pergunta o pai do Joca, quase sem fôlego.
– E os lenhadores que cortaram as árvores, que os
serradores serraram e outros mais partiram e repartiram,
até chegarem a fazer os paus dos fósforos? – disse a mãe
do Joca, quase a rir-se.
– Chega! Chega! – gritou o Joca. – Já comi a sopa toda.
– O que é que há a seguir?
Ia ter que esperar, porque, diante dos pais do Joca e do
tio Alfredo, os pratos de sopa ainda continuavam cheios...
FIM
– Não te engasgas com o bife nem com as batatas fritas...
– diz-lhe o pai. – Porque será?
A verdade é que o Joca não gosta de sopa. Já os pais
estão na fruta e ele ainda a remanchar, ora uma colher ora
outra, muito enfadado, diante da sopa fria.
No outro dia, foi lá jantar o tio Alfredo. Sabedor do
desgosto do Joca pela sopinha, disse que ia preparar uma
sopa especial, uma raridade, que tinha dado que fazer a
mais de mil homens.
Fechou-se na cozinha, onde se demorou que tempos, e
quando terminou o preparo anunciou:
– Todos para a mesa, para provarem a sopa que custou o
trabalho de mais de mil.
– Não te engasgas com o bife nem com as batatas fritas...
– diz-lhe o pai. – Porque será?
A verdade é que o Joca não gosta de sopa. Já os pais
estão na fruta e ele ainda a remanchar, ora uma colher ora
outra, muito enfadado, diante da sopa fria.
No outro dia, foi lá jantar o tio Alfredo. Sabedor do
desgosto do Joca pela sopinha, disse que ia preparar uma
sopa especial, uma raridade, que tinha dado que fazer a
mais de mil homens.
Fechou-se na cozinha, onde se demorou que tempos, e
quando terminou o preparo anunciou:
– Todos para a mesa, para provarem a sopa que custou o
trabalho de mais de mil.
1
© APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
JOCA E O
PRATO DE SOPA
António Torrado
escreveu e
Cristina Malaquias ilustrou
1 de Maio
Dia Mundial do Trabalhador
O
www.hugoteacher.blogspot.com
Veio a sopa para os pratos e nenhuma diferença fazia das
sopas já conhecidas e rejeitadas pelo paladar do Joca.
Ele assim o disse, à primeira colherada:
– Se deu que fazer a mil homens ou só deu que fazer ao
tio Alfredo vale o mesmo.
– Enganas-te – atalhou o tio Alfredo. – Vamos nós fazer
as contas aos homens que trabalharam para a tua sopa.
Pegou num papel e numa caneta e começou a contar:
– Primeiro, os legumes da sopa. Calculas quantas
pessoas foram necessárias para lavrar a terra, mondar as
ervas, regar a horta? Agora acrescenta os ferreiros que
fabricaram os sachos, os mecânicos que armaram o arado,
os operários que construíram o tractor, os latoeiros que
fizeram os regadores...
– Agora a rega é toda mecanizada – lembrou o pai do
Joca.
– Mais me ajudas – disse o tio Alfredo. – Quantos
engenheiros foram necessários para inventar a rega por
aspersão? Quantos operários para apurar os instrumentos
de rega? Quantos homens para fabricar as bombas de água,
que a vão buscar aos rios? E quem fez as mangueiras?
Quem concebeu a mecânica dos óleos, que accionam as
bombas de água?
Tanta gente à volta de um prato de sopa! Cem?
Duzentos? Trezentos homens, cansados de trabalhar? Os
pais do Joca e o tio Alfredo faziam cálculos de cabeça.
– Aos legumes, acrescenta o arroz. As mais das vezes são
mulheres quem cuida dos arrozais – explicou o tio Alfredo.
– E quem trata do ensacamento? Quem acondiciona?
Quem transporta? Quem distribui pelos armazéns? Quem o
vende nas lojas e nos supermercados? Mais umas centenas.
– Alfredo, não te esqueças do sal – lembrou a mãe do
Joca.
– Pois claro que não me esqueço dos salineiros, que
levantam o sal das salinas. Sem a contribuição deles, a sopa
não tinha gosto.
O tio Alfredo continuava inspirado, somando parcelas,
acrescentando gente. Enquanto ele sussurrava números
debruçado sobre o papel, o pai do Joca tomou-lhe o fio à
meada:
– E o construtor do fogão, que cozinhou a sopa? E os
fabricantes do gás, que acendeu o fogão? E os químicos
que produziram o fósforo, com que se fizeram os fósforos,
que acenderam o gás, que chegou aos bicos, trazido pelas
condutas, escondidas no fogão, que cozinhou a sopa? –
pergunta o pai do Joca, quase sem fôlego.
– E os lenhadores que cortaram as árvores, que os
serradores serraram e outros mais partiram e repartiram,
até chegarem a fazer os paus dos fósforos? – disse a mãe
do Joca, quase a rir-se.
– Chega! Chega! – gritou o Joca. – Já comi a sopa toda.
– O que é que há a seguir?
Ia ter que esperar, porque, diante dos pais do Joca e do
tio Alfredo, os pratos de sopa ainda continuavam cheios...
FIM
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