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A MENINA SEREIA
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A MENINA SEREIA
Era uma vez uma menina que queria ser sereia. Mas
se ela nem sequer sabia nadar...
Tinha lido histórias de sereias, esses estranhos seres,
metade mulheres, da cintura para cima, e metade peixes, da
cintura para baixo.
Num dos seus livros predilectos descobriu a receita para
transformar meninas em sereias. Era uma fórmula muito
complicada que metia escamas de salmonete em pó, algas
de uma espécie rara, cristais de sal, contados um por um, e
outros elementos que não sei ao certo.
A menina misturou o preparado, segundo as
recomendações da receita, levou-o ao lume, deixou
arrefecer e, depois, bebeu-o de um trago.
1
© APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
A MENINA
SEREIA
António Torrado
escreveu e
Cristina Malaquias ilustrou
E
Sentiu o borbulhar de um grande fervedouro dentro dela,
arrotou várias vezes, os olhos encarniçaram-se-lhe e
estremeceu dos pés à cabeça. Estava a transformar-se no
que queria.
Não foi bem assim. Fosse da imprecisão da fórmula,
fosse da falta de rigor na contagem dos cristais de sal, o
certo é que a menina estava transformada numa sereia, mas
ao contrário: da cintura para cima era peixe, da cintura para
baixo era pessoa.
Não convinha. Não lhe convinha mesmo nada. Uma
cabeça de pescada com pernas é uma coisa pouco
agradável de ver. E nada elegante.
De modo que a menina teve de consultar um médico, um
especialista destas situações anormais. Entre outros êxitos,
já tinha curado um homem que estava a transformar-se
num grande porco e um burro, muito burro, que se dizia
doutor.
- Como a transmutação é muito fresca, ainda vem a
tempo de acudir-lhe - disse o médico.
Deu-lhe uns comprimidos, uma injecção, umas
massagens, uns esticões e umas lavagens por dentro e por
fora, até que, ao fim de vários dias, a menina se viu ao
espelho de novo, como era dantes. Que alívio!
Nunca mais quis ser sereia. Aquela experiência
bastara-lhe.
Anda agora a aprender a nadar. De costas ou de bruços,
a cortar a água da piscina, ela é uma autêntica sereia, sem
deixar de ser menina.
FIM
se ela nem sequer sabia nadar...
Tinha lido histórias de sereias, esses estranhos seres,
metade mulheres, da cintura para cima, e metade peixes, da
cintura para baixo.
Num dos seus livros predilectos descobriu a receita para
transformar meninas em sereias. Era uma fórmula muito
complicada que metia escamas de salmonete em pó, algas
de uma espécie rara, cristais de sal, contados um por um, e
outros elementos que não sei ao certo.
A menina misturou o preparado, segundo as
recomendações da receita, levou-o ao lume, deixou
arrefecer e, depois, bebeu-o de um trago.
1
© APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
A MENINA
SEREIA
António Torrado
escreveu e
Cristina Malaquias ilustrou
E
Sentiu o borbulhar de um grande fervedouro dentro dela,
arrotou várias vezes, os olhos encarniçaram-se-lhe e
estremeceu dos pés à cabeça. Estava a transformar-se no
que queria.
Não foi bem assim. Fosse da imprecisão da fórmula,
fosse da falta de rigor na contagem dos cristais de sal, o
certo é que a menina estava transformada numa sereia, mas
ao contrário: da cintura para cima era peixe, da cintura para
baixo era pessoa.
Não convinha. Não lhe convinha mesmo nada. Uma
cabeça de pescada com pernas é uma coisa pouco
agradável de ver. E nada elegante.
De modo que a menina teve de consultar um médico, um
especialista destas situações anormais. Entre outros êxitos,
já tinha curado um homem que estava a transformar-se
num grande porco e um burro, muito burro, que se dizia
doutor.
- Como a transmutação é muito fresca, ainda vem a
tempo de acudir-lhe - disse o médico.
Deu-lhe uns comprimidos, uma injecção, umas
massagens, uns esticões e umas lavagens por dentro e por
fora, até que, ao fim de vários dias, a menina se viu ao
espelho de novo, como era dantes. Que alívio!
Nunca mais quis ser sereia. Aquela experiência
bastara-lhe.
Anda agora a aprender a nadar. De costas ou de bruços,
a cortar a água da piscina, ela é uma autêntica sereia, sem
deixar de ser menina.
FIM
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