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O PIQUENIQUE DA FELISBELA
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Página 1 de 1
O PIQUENIQUE DA FELISBELA
or altura dos piqueniques na mata, a lebre Felisbela
anda mais descuidada.
Onde há piqueniques não há caçadores. Em
contrapartida, há comida à escolha, restos de salada, cascas
de fruta e outros manjares fora do vulgar dia-a-dia de uma
lebre fomenica.
Então depois dos domingos e dos feriados, a mata é uma
mesa de banquete.
Andava a lebre Felisbela, numa matina de segunda-feira,
na recolha regalada da comida para o resto da semana,
quando viu, junto a um castanheiro, um enorme cesto de
vime.
"Alguém que o deixou esquecido", pensou a lebre, sem
estranhar a prenda. E logo a seguir veio-lhe à memória uma
saladinha de frutas exóticas que provara de uma saladeira
partida e abandonada por piqueniqueiros desleixados.
Não pensou mais. Levantou a tampa do cesto e atirou-se
lá para dentro. Grande surpresa! Garras poderosas
fincaram-se-lhe as orelhas.
– Apanhei-te – disse uma voz de meter medo.
Era o lobo, que urdira aquela armadilha para provar que
os lobos não são tão tolos como, nas histórias, os
descrevem.
O lobo triunfante ergueu-se do cesto e com a lebre bem
presa dirigiu-se à fonte da mata.
– Não gosto de comer nada sem lavar primeiro – esclareceu
o lobo. – Tomo muito cuidado com a minha alimentação.
– Prudente regra, senhor lobo – aprovou a lebre
Felisbela. – Foi por não ter seguido esse preceito que estou
como estou.
– E como é que tu estás, posso saber?
Em resposta, o lobo ouviu um fundo suspiro de
desalento. Logo a seguir, um gemido de cortar o coração.
– Não te sentes bem? – perguntou o lobo, abrandando as
tenazes das garras sobre as orelhas da lebre.
– Sob a protecção do senhor lobo sinto-me muito bem –
respondeu a lebre, voltando a suspirar.
– Mas eu não estou a proteger-te. Vou matar-te não tarda.
– Quanto mais depressa melhor, senhor lobo. Nem eu
esperava outra coisa, quando levantei a tampa do cabaz, à
sua procura.
APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
– À minha procura? – admirou-se o lobo. – Pois tu
sabias que eu estava lá dentro?
– Vi-o entrar. Por isso, fui ter consigo.
O lobo desconfiou:
– Estás a maquinar alguma, lebre. Isto já não me cheira
bem.
– Se já cheiro mal, a culpa é dos cogumelos – e a lebre,
de propósito, largou uma bufa daquelas de agoniar até as
moscas.
– Ui, que pivete! – queixou-se o lobo. – De que cogumelos
falas?
– De uns venenosos, que comi, desprevenida – explicou
a lebre. – Estou com umas cólicas que, se o senhor lobo
não me mata depressa, cuido que rebento antes. Por isso
me atirei para dentro da seira, para abreviar o sofrimento.
– Ó maldita – exclamou o lobo, enojado. – E escolheste-
-me a mim para carrasco? Tu não sabias que eu não como
bichos doentes, ainda para mais envenenados.
O lobo arremessou a lebre para longe, o mais longe que
pôde. Ainda a Felisbela ia no ar e já se estava a rir. Que
grande desfeita ela pregara ao bronco do lobo! E salvara a
vida...
FIM
anda mais descuidada.
Onde há piqueniques não há caçadores. Em
contrapartida, há comida à escolha, restos de salada, cascas
de fruta e outros manjares fora do vulgar dia-a-dia de uma
lebre fomenica.
Então depois dos domingos e dos feriados, a mata é uma
mesa de banquete.
Andava a lebre Felisbela, numa matina de segunda-feira,
na recolha regalada da comida para o resto da semana,
quando viu, junto a um castanheiro, um enorme cesto de
vime.
"Alguém que o deixou esquecido", pensou a lebre, sem
estranhar a prenda. E logo a seguir veio-lhe à memória uma
saladinha de frutas exóticas que provara de uma saladeira
partida e abandonada por piqueniqueiros desleixados.
Não pensou mais. Levantou a tampa do cesto e atirou-se
lá para dentro. Grande surpresa! Garras poderosas
fincaram-se-lhe as orelhas.
– Apanhei-te – disse uma voz de meter medo.
Era o lobo, que urdira aquela armadilha para provar que
os lobos não são tão tolos como, nas histórias, os
descrevem.
O lobo triunfante ergueu-se do cesto e com a lebre bem
presa dirigiu-se à fonte da mata.
– Não gosto de comer nada sem lavar primeiro – esclareceu
o lobo. – Tomo muito cuidado com a minha alimentação.
– Prudente regra, senhor lobo – aprovou a lebre
Felisbela. – Foi por não ter seguido esse preceito que estou
como estou.
– E como é que tu estás, posso saber?
Em resposta, o lobo ouviu um fundo suspiro de
desalento. Logo a seguir, um gemido de cortar o coração.
– Não te sentes bem? – perguntou o lobo, abrandando as
tenazes das garras sobre as orelhas da lebre.
– Sob a protecção do senhor lobo sinto-me muito bem –
respondeu a lebre, voltando a suspirar.
– Mas eu não estou a proteger-te. Vou matar-te não tarda.
– Quanto mais depressa melhor, senhor lobo. Nem eu
esperava outra coisa, quando levantei a tampa do cabaz, à
sua procura.
APENA - APDD – Cofinanciado pelo POSI e pela Presidência do Conselho de Ministros
– À minha procura? – admirou-se o lobo. – Pois tu
sabias que eu estava lá dentro?
– Vi-o entrar. Por isso, fui ter consigo.
O lobo desconfiou:
– Estás a maquinar alguma, lebre. Isto já não me cheira
bem.
– Se já cheiro mal, a culpa é dos cogumelos – e a lebre,
de propósito, largou uma bufa daquelas de agoniar até as
moscas.
– Ui, que pivete! – queixou-se o lobo. – De que cogumelos
falas?
– De uns venenosos, que comi, desprevenida – explicou
a lebre. – Estou com umas cólicas que, se o senhor lobo
não me mata depressa, cuido que rebento antes. Por isso
me atirei para dentro da seira, para abreviar o sofrimento.
– Ó maldita – exclamou o lobo, enojado. – E escolheste-
-me a mim para carrasco? Tu não sabias que eu não como
bichos doentes, ainda para mais envenenados.
O lobo arremessou a lebre para longe, o mais longe que
pôde. Ainda a Felisbela ia no ar e já se estava a rir. Que
grande desfeita ela pregara ao bronco do lobo! E salvara a
vida...
FIM
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